Como os Dados Digitais Estão Revolucionando a Tomada de Decisão em Compras?
- ruysmagalhaes
- 30 de mar.
- 4 min de leitura

A área de compras está passando por uma verdadeira revolução. Se antes era vista como uma função estritamente operacional, hoje assume um papel cada vez mais estratégico nas empresas — e boa parte dessa transformação tem como base o uso inteligente dos dados digitais.
Com o avanço da transformação digital, a tomada de decisão precisa deixar de ser baseada apenas em experiência ou intuição. Agora, os dados passaram a ser protagonistas.
Como destacou Anderson Argentoni, CEO da Jump, não basta apenas ter acesso aos dados: é essencial saber fazer as perguntas certas e extrair respostas claras e confiáveis.
Essa mudança de postura vem modificando o perfil dos profissionais de compras, que precisam cada vez mais entender de indicadores, ferramentas analíticas e, principalmente, saber interpretar os números dentro do contexto do negócio.
Entender e interpretar os dados, são essenciais para que o profissional de compras possa tomar a melhor decisão, ou, utilizar sua visão de negócios para fornecer suporte a diretoria corporativa para a tomada de decisões estratégicas, conforme afirmado por Tânia Gofredo, Economic Analysis Manager and Customer Service da GEP Costdrivers, durante o evento Café Meeting do Café com Comprador realizado em São Paulo.
Ruy Magalhães, vice-presidente do Grupo Café, reforça essa ideia ao afirmar que decisões mal embasadas podem comprometer toda a cadeia de suprimentos, os custos operacionais e até mesmo a imagem da empresa. Isso mostra como o uso estratégico de dados é vital para garantir eficiência, competitividade e sustentabilidade nas operações.
Essas reflexões foram aprofundadas técnicamente no podcast Jump Talk 36 – O poder dos
dados na tomada de decisão empresarial, em que o especialista Thiago Jatobá, Data Manager na Sul América, compartilha aprendizados valiosos de sua trajetória. Entre os principais pontos, ele destaca que a tecnologia, por mais avançada que seja, não resolve nada por si só. A prioridade sempre deve ser entender o problema do negócio, e só depois buscar a ferramenta mais adequada para solucioná-lo. Essa inversão de ordem é o que diferencia projetos bem-sucedidos de iniciativas que consomem recursos, mas não geram resultado.
Outro ponto importante destacado no episódio é o papel das habilidades comportamentais, os chamados soft skills. A capacidade de ouvir, de dialogar com outras áreas, de entender o real contexto por trás de um dado, é tão importante quanto dominar ferramentas ou linguagens de programação. Muitas vezes, o comprador ou analista tem acesso a todas as informações, mas não sabe como transformá-las em decisões concretas. É aí que entra a importância de desenvolver também o lado humano da análise de dados.
A cultura orientada por dados, ou data-driven, não surge espontaneamente. É necessário um esforço consciente para que toda a equipe de compras passe a usar os dados como apoio nas decisões do dia a dia. Isso significa criar rituais de análise, promover a capacitação da equipe e estimular o pensamento crítico.
Além disso, não se trata apenas de adotar tecnologias modernas como dashboards interativos, automação com RPA ou plataformas de inteligência artificial. O verdadeiro valor aparece quando essas ferramentas são usadas com propósito claro e alinhadas às necessidades reais da empresa.
Nesse processo de transformação, o comprador deixa de ser apenas um executor de pedidos e passa a atuar como um analista estratégico. Ele precisa entender os processos da empresa, conhecer os objetivos do negócio, dialogar com áreas como finanças, TI e logística, e buscar constantemente formas de agregar valor. Ter domínio sobre indicadores como lead time, desempenho de fornecedores, variações de preço e consumo por categoria torna-se essencial.
A governança de dados também ganha destaque. Com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as empresas precisam se preocupar com segurança, privacidade e conformidade. Vazamentos de informações estratégicas, como contratos e condições comerciais, podem representar grandes riscos. Por isso, pensar em governança desde o início de qualquer projeto é indispensável.
Outro ponto bastante debatido no podcast foi o hype em torno de tecnologias como inteligência artificial generativa. Embora essas ferramentas tenham grande potencial, muitas vezes a base de dados da empresa ainda não está madura o suficiente para sustentar esse tipo de aplicação. Jatobá explica que, antes de investir nessas soluções, é preciso analisar o nível de maturidade da organização e se a fundação está sólida. Caso contrário, a tecnologia pode até funcionar, mas não entregará valor real ao negócio.
Para quem deseja iniciar ou acelerar esse processo, uma dica prática é começar pequeno, definindo alguns indicadores estratégicos, promovendo conversas sobre dados com a equipe e testando hipóteses a partir de informações históricas. Pequenas ações como essas, feitas de forma consistente, já começam a moldar uma cultura mais analítica.
Como reforçou Anderson Argentoni no encerramento do episódio, os dados não servem apenas para medir. Eles existem para ajudar a decidir — e decidir certo é o que diferencia o comprador comum do profissional estratégico. A era digital está em plena velocidade e não há mais espaço para decisões feitas no escuro. O futuro da área de compras passa, inevitavelmente, pelo uso inteligente dos dados. E quem entender isso primeiro, sairá na frente.
Para aprofundar o tema, vale conferir o episódio completo do podcast Jump Talk 36, disponível no YouTube, onde os especialistas compartilham visões práticas sobre como usar os dados como motor da tomada de decisão nas empresas. A conversa é inspiradora, acessível e extremamente aplicável à realidade de quem vive o dia a dia do setor de compras.

Texto escrito por Ruy Magalhães
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