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Procurement com COVID-19 ?


Quais as ferramentas que apoiam a decisão do Comprador em momento de pré-crise, ou melhor, como antever uma crise global como a que estamos passando com o contágio mundial pelo Covid-19? Tenho uma pré-disposição a crer que o Comprador, por natureza ou estimulo, deve ser curioso e estar sempre antenado ao que acontece no seu entorno. Quando falo no entorno, estou me referindo ao cenário macroeconômico nacional e mundial. Uma visão holística é um skill que será altamente demandado do profissional do futuro, essa visão permite que, se consigo antever crises de forma mais assertiva e, com isso, que se tome decisões para garantir a perenidade do negócio. Além disso, ter acesso a plataformas de acompanhamento dos principais indicadores é algo de extrema importância para a equipe de Suprimentos da maior parte das industrias, se não de todas.


Uma decisão baseada em dados e ferramentas, tende a ser sempre a melhor decisão. Mas, qual, ou quais, ferramentas podemos usar para analisar a situação global? A primeira dica é lançar mão da Análise de Pestal. Essa ferramenta, muito valiosa, é por vezes desconsiderada nas análises até de equipes dedicadas a Sourcing, que dirá no dia a dia do Comprador. Mas, ela lança luz justamente para essa visão holística que o profissional de Suprimentos precisa ter. Tem uma enorme capacidade de analisar de forma estratégica o macro ambiente.


Qualquer pessoa que usasse essa ferramenta a cerca de um ou dois meses atrás seria capaz de prever a crise que o Brasil está atravessando nos dias de hoje. Com isso, seria capaz de adiantar recebíveis, reduzir estoque, alongar prazos de pagamento sem causar histeria ou pânico junto aos fornecedores, garantir provisões básicas – caso sua empresa não tenha a opção de ficar 100% em home office – e, no limite, garantir a sobrevivência do seu negócio. Analisar os fatores Políticos, Econômicos, Sociais, Tecnológicos, Ambientais e Legais há dois meses atrás permitiria uma conclusão rápida de que a China, que talvez possa ser chamada de “a fábrica do mundo” estava à beira de um colapso social por causa do Covid-19, com fortes reflexos na economia local, regional e mundial.

Políticos – Avaliar relações do governo local com os estrangeiros, avaliar relação política entre as principais potências mundiais, avaliar acordos e tratados de comércio e etc.


Econômicos – Acompanhar índices das principais bolsas e commodities, bloqueios comerciais, tarifas de importação, incentivos econômicos nacionais e regionais e, custo de mão-de-obra e etc.


Sociais – Conhecer o perfil da mão de obra local, regional ou internacional, expectativa de vida, comportamento do consumidor, surtos, epidemias, guerras locais e regionais, índice de mortalidade infantil e etc.


Tecnológicos – Novas startups no mercado, tendências tecnológicas na sua indústria ou nas que afeta a sua diretamente, inovação em processos e etc.

Ambientais – Impacto da sua produção no meio ambiente, demandas por produtos mais sustentáveis, impacto dos seus fornecedores e subfornecedores no meio ambiente e etc.


Legais – Novas legislações, tratados locais, regionais e mundiais, sanções jurídicas ao seu negócio e etc. A dois meses atrás, muito em parte graças a crise do Covid-19 [sem tirar o crédito da guerra comercial USA x China e da pouca ação do Banco Central em queimar reservas], o dólar já dava sinais evidentes de uma forte alta, se sua empresa é importadora você se protegeu? Negociou melhor com seus fornecedores internacionais? Pediu a equipe financeira que se protegesse com hedge cambial? Ou, até mesmo, buscou localmente uma alternativa a matéria prima ou subproduto que você importa? Importante aqui frisar que a tropicalização é benéfica para garantir uma cadeia de suprimentos mais eficaz, quase sempre, não é uma regra. Mas, ao menos, mantenha um fornecedor ativo localmente que possa te suprir durante essas crises.


Pensando em uma categoria específica, funciona usar somente Pestal? Feita a Análise de Pestal, sempre acho válido enriquecer essa visão com a Análise de Porter, que nos trás para um ambiente mais direcionado a realidade da nossa empresa e das categorias que trabalhamos, avaliando a relação do mercado, subfornecedores, possíveis novos entrantes e todo impacto no seu fornecedor de uma categoria especificamente. Nessa etapa, a dica é focar sempre na Curva A de seu spend ou nos itens que mais impactam o seu produto final – que não necessariamente estão na Curva A do seu spend map – para analisar todos os riscos e oportunidades que você pode ter em um cenário pré-crise e durante crise. O casamento entre as duas análises, macro ambiente [Pestal] e microambiente [Porter], traz uma visão ultra enriquecedora. Com essas informações, você será capaz de tomar decisões muito mais assertivas, pois estará se baseando em dados, mitigando assim boa parte do risco de ruptura na sua produção e até mesmo de fornecimento do seu produto ou serviço final ao mercado consumidor.


Usando a Análise de Porter, você será capaz de avaliar alguns cenários que vão contribuir em muito para sua decisão estratégica de antecipar ou postergar pedidos, pagamentos, giro de estoque e etc. Nela, são avaliados a Ameaça de Novos Entrantes, Poder de Barganha dos Fornecedores, Poder de Barganha dos Clientes, a Ameaça de Produtos Substitutos e a Rivalidade entre os Concorrentes. Em geral, os times de estratégia das empresas usam essa análise para definir o Plano Estratégico de longo prazo. No nosso caso, Suprimentos, devemos colocar nossa empresa na caixa de Poder de Barganha dos Clientes (ou Compradores). Com isso, analisamos a concorrência entre nossos fornecedores, ou quantos fornecedores estão disponíveis no mercado para prover o mesmo serviço ou fornecer o mesmo material que precisamos para garantir a cadeia produtiva de nossa empresa. É importante também, assim como na Análise de Pestal, estar a sempre atento a possíveis produtos substitutos [ou novas tecnologias disruptivas].

Muitas vezes ficamos presos ao mesmo modelo tradicional e deixamos de olhar em hubs de inovação ou para startups que possam trazer inovação ao nosso processo produtivo, entregando muitas vezes mais inteligência, tecnologia e melhores custos. Além disso, é preciso olhar também se em uma categoria específica você pode ser capaz de desenvolver novos fornecedores.


Em muitos casos é comum se ter um fornecedor para um produto A e outro para o produto B, mas o que te fornece o produto A tem total capacidade de fornecedor o produto B. Nesse sentido, cabe a você desenvolver esse fornecedor lhe dando marketshare e transferindo conhecimento e tecnologia. Essa também pode ser uma boa solução para tempos de crise, ganhar mais representatividade no wallet share de um fornecedor específico. E quando é preciso lançar mão dessas análises? Na minha opinião, Pestal deve ser feito com bastante frequência para que se tenha visão estratégica dos acontecimentos nacionais, regionais e mundiais.


É sabido que vivemos em um ambiente VUCA [volátil, incerto, complexo e ambíguo], então precisamos estar cada vez mais atentos aos acontecimentos e sermos capazes de antever e responder com rapidez e assertividade ajustando nossa estratégia para garantir o sucesso de nossas cias. Pensando em Porter, é importante ser feito com frequência também, talvez muito em resposta ao que sua Análise de Pestal trouxer, para garantir ao menos que as principais categorias que impactam seu negócio estejam sempre prontas para sobreviver a crises como a greve dos caminhoneiros e, mais recentemente, a pandemia do Covid-19. Novamente, o Comprador precisa ter visão holística e usar as ferramentas e tecnologias que o mercado disponibiliza. Aquele comprador que se limita a fazer três cotações, negociar seus 5 a 10% de cost avoidance, emitir um pedido e acompanhar a entrega está ficando cada vez mais no passado.


Texto gentilmente escrito por Matheus Rodrigues, head of Procurement e Facilities da OLX

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